quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Não espere


De novo eu estava sentada naquela praça. Olhava aquele borrão de cores sem nada enxergar. Parecia que

aquilo já virara rotina para mim. Mesmo sem tomar consciência do que via, me habituara tanto com a cena

de sempre que poderia dizê-la com exatidão de detalhes. Mas não estou aqui para isso.

O que contarei agora vivi naquele mesmo dia. Ele começou como o anterior (e todos os outros desses últimos

dois meses). Cheguei à praça no mesmo horário. Sentei no banco de costume. O que eu fazia ali?Esperava.

Sim, eu esperava. Não era um tipo de coisa que eu havia planejado, até porque a gente não planeja o quanto

devemos esperar não é mesmo?Eu apenas esperava. Não alguém exatamente. Eu esperava o acaso. Queria um acontecimento. Isso!Um acontecimento!Buscava uma mudança, algo verdadeiramente novo. Estava cansada da monotonia. Não pense que estando ali naquele lugar e presenciando a mesma cena há dois meses eu estava

sendo monótona. Porque os dias mesmo sendo parecidos, não são iguais de todo. Há sempre um detalhe que

foge da regra. Se não fosse assim, não existiria a noite para separá-los. Pois tudo aquilo que é imutável é

eterno, assim como o céu.

Naquele determinado dia, havia um detalhe diferente: meu chapéu. Raramente eu usava algo sobre a cabeça. Gostava de deixar meus cabelos livres para poder sentir o frescor do ar passando entre eles. Naquele dia em questão, eu quis usar um chapéu. A tarde estava ensolarada e o vento brincava de leve com meus fios soltos. Num sopro mais forte, o vento carregou meu chapéu. Tentei pegá-lo ainda no ar, mas foi em vão. Ele agora era um ponto roxeado no meio da imensidão verde da grama.

Contrariando todos os mesmos atos que eu fiz nos últimos 60 dias, levantei e saí para o meio do gramado.

Quando enfim consegui pegar o chapéu, voltei ao meu banco. Foi aí que tive uma surpresa. Sim, uma surpresa:

algo inesperado.

Um garoto moreno dos olhos claros estava sentado ali. Fiquei sem reação. Já estava tão acostumada a passar

a tarde toda sozinha, que não me surpreenderia se voltasse para casa da mesma forma que sempre voltei. Foi

então que percebi: eu não esperava que isso fosse acontecer. Nesse simples ato de não esperar, eu consegui

o que queria. Fiquei tanto tempo na espera que me esqueci que as coisas não acontecem se a gente fica parado,

sem fazer nada para mudar. Porque a mudança começa com a gente, seja num simples gesto ou num ato sem

planejar. E sem esperar qualquer reação negativa do garoto, puxei conversa. E assim pude descobrir que ele

não me esperava também. Acaso ou não, de uma coisa eu tenho certeza: se eu tivesse continuado esperando

e não tivesse saído do lugar, aquilo que eu queria nunca teria acontecido. E mesmo que tivesse, não seria

mais do que eu havia esperado.


Minha autoria.

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